Ciência e Espiritualidade: benefícios do silêncio para a saúde física e mental
Na maioria dos dias, somos afogados pelo barulho. Cachorro latindo, pessoas conversando, telefone tocando no escritório, música, barulhos do trânsito, obras no vizinho…
É de se admirar que se deseje um pouco de silêncio? A Organização Mundial da Saúde apoia este pedido: ela diz que nosso mundo é muito barulhento e que isso está prejudicando nossa saúde.
Há séculos sabemos da importância da quietude: em muitas religiões, o silêncio é promovido como um processo vital de cura. Então, por que não buscamos o silêncio na era moderna?
Há pessoas que vão em busca de sossego em diferentes os lugares. Elas se juntam para um retiro de silêncio ou vão para o campo para um fim de semana de paz. Existe até uma tendência crescente de passar o tempo em tanques de privação sensorial ou de flutuação – se for acessível financeiramente para você.
De fato, em seu livro Silence: In the age of noise, o norueguês Erling Kagge chama o silêncio de “o novo luxo”. "Quando não posso sair, navegar ou sair do mundo, aprendi a desligá-lo", diz Kagge, que é a primeira pessoa a alcançar os três picos do mundo a pé: o Pólo Norte, o Pólo Sul e o Monte Everest. A caminho da Antarctica, onde foi completamente sozinho, sem rádio e sem telefone, experimentou o silêncio. Por cinquenta dias, ele não encontrou nenhuma criatura viva. Desde então, tem se dedicado a estudar o silêncio, um dos maiores ativos no ruidoso mundo em que vivemos.
Descobrir o que a paz e o sossego realmente fazem pela nossa saúde mental e física também é a ambição de um grupo de neurocientistas e profissionais de saúde que estão começando a desvendar os benefícios.
A neurociência do silêncio
A importância do silêncio tem sido enfatizada nas tradições antigas e modernas (Teschner, 1981 ; Davies e Turner, 2002 ; Stratton, 2015 ). Nas sabedorias orientais, o silêncio tem sido associado à quietude interior da mente, uma sensação de equanimidade e unidade (Feuerstein, 1996 ; Lin et al., 2008 ).
Ao mesmo tempo, estudiosos ocidentais, como Kierkegaard (1993), chegaram a prescrever a criação do silêncio como um remédio para a condição do mundo. Tanto é que Wittgenstein (2002) considerava o silêncio como a resposta para as questões mais difíceis da filosofia.
Cientificamente, as práticas meditativas têm sido amplamente investigadas nos campos neurocientífico, psicológico e contemplativo. No entanto, o silêncio, que muitas vezes é um aspecto característico dessas práticas meditativas, tem desfrutado de muito pouca atenção nas mesmas disciplinas. A primeira dificuldade é justamente definir o que é o silêncio.
Como o barulho é interpretado pelo nosso cérebro
Sempre que ouvimos um barulho, as ondas sonoras viajam até o cérebro como um sinal elétrico e ativam a amígdala, a parte do sistema nervoso ligada às memórias e emoções. Isso desencadeia a liberação imediata de hormônios do estresse, como o cortisol.
Por esta razão, quem vive ou trabalha em ambientes muito ruidosos apresenta níveis de estresse mais elevados, têm mais dificuldade em recuperar energia mental, fica mais cansado e pode sentir uma sensação geral de desconforto. Inclusive, há estudos científicos que relacionam ruído excessivo com pressão alta.
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Benefícios do silêncio para a saúde física e mental
Geralmente, tendemos a considerar o silêncio como um vazio, um estado de ausência de ruídos e estímulos. Mas uma pesquisa descobriu que o próprio silêncio é percebido como um estímulo pelo nosso sistema nervoso, que então reage de acordo.
Um estudo italiano realizado em 2006, pelo médico Luciano Bernardi, tinha o objetivo de investigar a ligação entre o cérebro e a música. Durante a pesquisa, percebeu-se que as pausas silenciosas entre um estímulo sonoro e outro, principalmente se superiores a dois minutos, provocavam as reações mais importantes no cérebro. Esses súbitos intervalos de silêncio, de fato, causaram um efeito mais relaxante nos ouvintes do que qualquer música suave.
O silêncio também demonstrou ter um efeito positivo na criatividade, concentração, combate ao estresse e controle emocional. Um estudo da Duke University com roedores descobriu que duas horas de silêncio por dia podem promover o desenvolvimento de novas células cerebrais.
E mesmo uma pequena pausa em silêncio durante o dia ou à noite pode ser de grande ajuda para recuperar a energia mental.
Com a meditação, "ouvimos" o silêncio
Meditar pode parecer algo difícil, mas, na realidade, você só precisa encontrar um lugar para ficar quieto, isolado e sem distrações. Uma das técnicas mais simples e ao alcance de todos é a que se baseia na respiração.
Sente-se de pernas cruzadas no chão ou em uma cadeira, com as costas retas e feche os olhos. Agora é preciso concentrar-se na respiração: visualize o ar entrando e saindo pelas narinas e procure se conscientizar cada vez mais das sensações físicas que essa ação desperta em você.
Até os pensamentos fazem barulho!
O silêncio não é apenas externo, mas também interno. Enquanto estiver meditando, tente observar os pensamentos que surgem em sua mente, então pare de observá-los e deixe-os ir. Esta é talvez a parte mais difícil, pois os pensamentos tendem a se encadear e criar caos mental. Para evitar que isso aconteça, preste sempre atenção à sua respiração. Deixe de lado os pensamentos e concentre-se no ar.
Alguns estudos realizados com ressonância magnética observaram que a prática do silêncio interior e da meditação vão justamente para diminuir a ruminação dos pensamentos, ou seja, a tagarelice mental.