Ciência e Espiritualidade: como a meditação muda o cérebro

Em um mergulho no universo da meditação, pesquisadores têm se debruçado sobre a atividade cerebral de monges e meditadores em busca de compreender os segredos subjacentes a essa prática milenar. As últimas décadas testemunharam uma série de estudos pioneiros que revelaram um cenário impressionante: a meditação não só acalma a mente, como também gera efeitos profundos na massa cinzenta, oferecendo uma promissora defesa contra a degeneração cognitiva.

Liderada pelo neurocientista Richard Davidson, uma equipe de pesquisa lançou luz sobre os bastidores do cérebro de um monge durante uma sessão de meditação. Usando uma máquina de ressonância magnética e equipando o monge com 256 sensores, os cientistas monitoraram suas atividades neurais enquanto ele praticava meditação de compaixão.

Durante essas sessões de três horas, o cérebro do monge apresentou uma notável atividade de ondas gama. Essas oscilações eletromagnéticas são indicativas de uma sincronização intensa entre neurônios e têm sido associadas à percepção de consciência, atenção, aprendizado e memória. Os resultados foram excepcionais, registrando ondas gama de uma magnitude nunca antes observada na literatura científica.

Além das ondas gama, uma intensa atividade foi detectada no lobo frontal esquerdo do cérebro. Os pesquisadores acreditam que essa agitação neural nessa região desempenha um papel crucial em seu nível de felicidade e capacidade de evitar pensamentos negativos.



O que acontece no cérebro durante a meditação?

Outro estudo pioneiro conduzido pela pesquisadora Gaëlle Desbordes, de Harvard, em colaboração com cientistas da Universidade de Northeastern, corroborou esses achados. Voluntários foram submetidos a um programa de meditação de oito semanas, enquanto pesquisadores disfarçados acompanharam suas atividades diárias.

Os resultados foram reveladores: os praticantes de meditação demonstraram um aumento notável em atos de bondade, cedendo assentos em ônibus e auxiliando estranhos. Isso sugere que a meditação não apenas modifica as redes cerebrais, mas também influencia positivamente o comportamento social.

No Brasil, no Hospital Israelita Albert Einstein, cientistas realizaram um estudo de neuroimagem com 39 voluntários meditadores experientes. Aqueles com mais de três anos de prática demonstraram uma maior eficiência cerebral em tarefas que demandam atenção.

Surpreendentemente, os meditadores mostraram um uso menor de áreas cerebrais durante testes cognitivos, indicando uma capacidade aprimorada de concentração. A análise também revelou um aumento na massa cinzenta em áreas corticais associadas à atenção e ao raciocínio, semelhante às adaptações cerebrais observadas em músicos profissionais.

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Em resumo, as pesquisas recentes estão lançando luz sobre o incrível potencial da meditação para remodelar nossas mentes. Dos picos do Himalaia aos laboratórios científicos, a jornada de explorar o "cérebro zen" está desvendando uma miríade de benefícios neurocognitivos que vão além da mera tranquilidade mental, e oferecem novas perspectivas sobre a busca pela excelência mental e emocional.

Desvendando os mistérios da meditação e suas transformações neurocognitivas

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Cada cérebro é como um complexo biocomputador. Estamos o tempo todo processando informações, acessando memórias, fazendo cálculos, formulando respostas, buscando soluções. E criamos padrões de repetição para automatizar nossos processos.

Porém, fazemos tudo isso de forma subconsciente, complexa e não linear. Muito diferente de um algoritmo de uma rede social.

Ao meditar, nós promovemos atualizações do nosso “sistema mental”. É como se acessássemos o código do nosso software interno, fazemos backup do que queremos guardar, integramos o que aprendemos, deletamos o que não serve mais. Assim, podemos analisar as informações armazenadas e abrir espaço para expandir a nossa mente.

Por isso, ao meditar, eu me edito. Eu me vejo como um ser em construção, em processo, configurando a versão que eu estou sendo. A meditação é um tempo de presença que nos permite sentir, integrar e assimilar novas versões de você mesmo.

A meditação é uma potente ferramenta de expansão da consciência, pois nos permite acessar quem somos, sustentar nossa própria força e ter claridade sobre as questões e os desafios complexos da nossa jornada.


Este conteúdo conta com a curadoria de Juliana Reis Cortines, Doutora em Química Biológica na UFRJ


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